Novamente a sentei no trenó, porém, dessa vez traçávamos o caminho para casa.
— Diga-me se sentir algo - disse ao vê-la tão trêmula e pálida.
Ela observava cada imagem e admirava cada barulho que por ela passasse. Aquela neve não a atrapalhava em encontrar a beleza da natureza. Mal sabia ela que a beleza morava nela e que enquanto a natureza ela admirava, eu a admirava.
— Veja como é bela, até mesmo sob tanta neve! - disse ela encantada, com o único e pequeno sorriso que aquele inverno permitiu que ela expressasse.
Eu nada disse apenas sorri, ou pelo menos tentei.
Ela continuava a comentar mas o vento soava forte demais para que eu pudesse ouvi-la.
— Vejo como é belo, és bela. Amo-a, Ceci - Disse baixinho, quase sussurrando.
Forte ventania soava, nossas peles ela rasgava, era como se apanhássemos sozinhos. Então, de repente ouvi um grito, e era tão doce que não se parecia, nem o menos assemelhava-se, a um grito de desespero. Foi a última coisa que ouvi e vi, acredite.
A verdade é que eu não chegaria em casa e já estava ciente deste fato.
Chamo-me João, usuário de drogas desde os quatorze anos. Viciado em LSD desde os dezesseis, prazer. Morro agora aos vinte anos, sem nem ao menos saber distinguir o real do irreal.
Afirmo que consegui ouvir e até ver aquele último grito, que para mim soou como música. Consegui ouvir e ver aquela voz.
Morro agora sem saber se é real, se sou real, se ela é real, se éramos reais. Mas morro, morro sorrindo e como todo bom pré-morto, digo pausadamente minhas últimas palavras:
— Amo-a, Ceci.
— Samantha Gomes. 08/2013
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